sexta-feira, 22 de junho de 2012

Dirigir falando ao celular é mais perigoso que embriaguez


A física e a medicina do tráfego advertem: usar o celular enquanto dirige a uma velocidade média de 54 quilômetros por hora numa via urbana leva o motorista a conduzir às cegas por cerca de 30 metros. Se o motorista fizer o mesmo numa rodovia, a 108 quilômetros por hora, o veículo avança em torno de 60 metros como se simplesmente ganhasse vida própria, de acordo com cálculos do professor de física Paulo Cesar Ferreira Babu.

Uma pessoa que dirige alcoolizada aumenta em até 8 vezes a chance de se sofrer ou causar um acidente. O uso do celular é mais perigoso porque não só a coordenação motora é afetada, mas a visão, a audição e principalmente a atenção são desviadas para o aparelho”, acrescenta outro especialista, o diretor de comunicação da Abramet (Associação Brasileira de Medicina do Tráfego), Dirceu Rodrigues Alves Júnior. Pesquisa Abramet revela que dirigir e falar ao celular ou mandar mensagens de texto aumenta em 23 vezes o risco de acidentes. Portanto, dirigir falando ao celular é 15 vezes mais perigoso do que dirigir embriagado.

Segundo Dirceu, quando se usa o celular ocorre perda da visão 360 graus que se deve ter do veículo com o auxílio dos retrovisores. “O motorista fica com uma visão tubular, só consegue ver o que está à frente. Para verificar isso, durante a pesquisa, fizemos o motorista dirigir em um trajeto e perguntamos quantas pessoas ele viu, que cor era o prédio que estava no percurso e etc... Nenhum dos motoristas conseguiu responder as questões corretamente, ou seja, estavam destraídos”.

Dirigir mexendo no celular é mais perigoso até do que sob o efeito de drogas, segundo o Institute of Advanced Motorists, entidade de segurança do trânsito do Reino Unido. Os pesquisadores usaram um simulador para medir a reação dos motoristas em diferentes circunstâncias. Quem estava distraído com redes sociais no celular teve uma reação 38% mais lenta a um imprevisto, como a freada abrupta de um carro à frente. Quem fumara maconha ficou 21% mais lento. Os reflexos daqueles que beberam entre três e quatro latas de cerveja foram atrasados em 12%.

Cálculos do professor de física Paulo Cesar Ferreira Babu mostram em números o quanto é arriscado falar no celular e dirigir ao mesmo tempo. Levando-se em conta que as avenidas de Rio Preto permitem que o motorista trafegue a até 60 quilômetros por hora, o professor calcula que a velocidade média é de 54 km/h, equivalente a 15 metros por segundo. Para atender uma chamada segundo o professor leva-se aproximadamente dois segundos, neste caso o motorista terá percorrido 30 metros sem perceber, equivalente a meio quarteirão.

Para mandar uma mensagem de texto o professor analisa que em média o motorista demora até seis segundos para enviá-la. Neste caso, o carro foi guiado por 90 metros às cegas, equivalente a um quarteirão e meio. “Na rodovia essa situação é ainda mais grave já que o condutor pode guiar a até 110 quilômetros por hora, ou seja, 30 metros por segundo. Nesse caso o motorista irá percorrer até 60 metros sem atenção e no caso de escrever uma mensagem de texto o motorista terá guiado 180 metros às ‘cegas’, equivalente a três quarteirões”, explica o professor.

Em um ano, 3110 motoristas multados em Rio Preto

Além de ser perigoso, usar o telefone enquanto dirige é proibido pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB). O motorista flagrado com fones de ouvido ou qualquer outro aparelho de comunicação enquanto dirige é multado em R$ 85,13 e perde quatro pontos na carteira de habilitação. A infração é considerada média. Em Rio Preto, no ano passado, 3110 motoristas foram autuados por dirigir e falar no celular na cidade. Nos primeiros quatro meses deste ano, 630 motoristas foram multados pelo mesmo motivo.

Durante 20 minutos no cruzamento das avenidas Alberto Andaló e Vicente Flizola, a reportagem flagrou dez motoristas usando o telefone enquanto dirigiam. Um motociclista que não quis se identificar disse que apesar do risco não tem como evitar usar o aparelho. “Eu trabalho na rua, não tem como, preciso atender as ligações para saber onde serão as entregas. Sei que é perigoso, mas não tem outro jeito”, afirma. ele, que para no momento de fazer a ligação e depois acomoda o aparelho entre a cabeça e o capacete para falar e pilotar.

A empresária J.N.C., 32 anos, não pretende deixar de usar o aparelho no trânsito mesmo depois de ter levado três multas pelo mesmo motivo. Segundo ela o tempo que gasta no trânsito, cerca de duas horas por dia, é essencial para adiantar pendências do trabalho e da vida pessoal. “Sei que é perigoso, mas procuro evitar ao máximo o uso do aparelho, só atendo, ligo e respondo email e mensagens quando são urgentes e mesmo assim, só mando mensagem quando estou parada no sinal ou em algum congestionamento”, afirma.


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